Relacionamento Por Conveniência

Relacionamento Por Conveniência

Por:Vanessa Caramelo Rosolino /
Psicóloga
CRP: 06/90657

Quem já não manteve um relacionamento por conveniência, em busca de seu próprio bem estar, havendo a anulação do outro como indivíduo desejante no relacionamento, que atire a primeira pedra.

Há diversas formas de se relacionar por conveniência, e não apenas em um relacionamento amoroso, muitas vezes, encontramos em nossa vida pessoas que se relacionam com todas as outras por um único objetivo: seu próprio bem estar e prazer.

Há um sentimento de narcisismo presente em todos estes relacionamentos, onde tudo o que é feito, passa pelo pensamento sobre si mesmo, anulando o outro como participante ativo no relacionamento ou se anulando completamente para ser aceito e não perder a posição que o relacionamento lhe possibilita.

Narcisismo é o encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria imagem, nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Conta o mito que o jovem Narciso, que era belíssimo, nunca tinha visto sua própria imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago, ao aproximar-se viu nas águas um jovem de extraordinária beleza, pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o jovem saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas como ele parecia recusar-se a sair do lago, Narciso mergulhou até as profundezas à procura do outro que fugia e morreu afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua própria imagem que não identificou como sendo dele.

Em 1914, Freud – o pai da psicanálise – afirma que abrem-se para o indivíduo duas possibilidades que se apresentam como uma alternativa no início da vida: ou o sujeito toma o outro (a mãe) como objeto de amor, ou toma a si mesmo. Diz, porém, que se a escolha do sujeito recair sobre ele mesmo, ou seja quando o seu objeto de amor for única e exclusivamente ele mesmo, haverá conflitos que impõem um sofrimento e uma ameaça.

O narcisismo é importante no início da vida, para a constituição de si mesmo e do Ego, porém, a partir do momento em que ele passa a ser um obstáculo nas relações, deve ser cuidado.

Tanto os últimos artigos psicanalíticos quanto os discursos sociais de todas as ordens acreditam que o narcisismo reina soberano como o grande malvado, como obstáculo para o desenvolvimento de relações menos dolorosas e mais vazia, na era contemporânea.

Se observarmos a paisagem desenhada ao nosso redor após o vendaval revolucionário dos anos 70, veremos que os relacionamentos em todas as ordens, incluindo o conjugal,  apresentam-se mutáveis e movimentados. A antiga estabilidade da família nuclear parece ameaçada pelos casamentos desfeitos, os papéis masculinos e femininos foram radicalmente alterados e o amor já não goza do mito de eternidade. Nos questionamos se há ainda o amor.

O narcisismo e o amor não existem da mesma forma, em um mesmo lugar, pois o narcisismo é a não capacidade de amar o outro por estar voltado a si mesmo.

Observamos relacionamentos cada vez mais meteóricos na era
pós industrial, em que há uma busca incessante pelo prazer, onde a vida precisa ser desfrutada e para isso é necessário que se possua tudo que for desejável, de objetos a pessoas. Tudo é tratado como mercadoria, podendo então ser comprado, descartado e manipulado conforme sua própria vontade.

Se há a necessidade de algo como atenção, amor, sexo proteção, se há carência, há um motivo para a busca do que falta, sem pensar nas conseqüências para si mesmo ou o outro que é envolvido nesta relação.

A partir destas necessidades narcísicas, os relacionamentos por conveniências são criados, relacionamentos por dinheiro, por posição social, aparência, carência ou qualquer outro motivo que torne o relacionamento esvaziado, perduram por muitos anos sem a importância pela dor, pois há uma anulação em prol do objetivo que é o si mesmo.

Deve haver um questionamento quanto à posição de cada um no relacionamento: vale a pena a anulação, para qualquer que seja o objetivo?